1)INTRODUÇÃO: A abordagem sobre o método foi proeminente na
modernidade,deacordocomGhiraldelli,P:2010.p.68) "a modernidade se caracterizou
por uma preocupação com o método", onde o filósofo e matemático francês,
René Descartes ,foi um dos principais iniciadores. No início do século XVII, já
havia publicado seu Discurso do Método, alertando para a extrema necessidade de
"regras para a condução do espírito", quer dizer, para um pensamento
com rigor, seguindo um método . Segundo Laville (1999,p.11) a definição de
método de Descartes permanece atual, "válida até os dias de hoje";
Descartes define método como sendo regras, vejamos a citação:
"Ora,
por método entendo as regras fáceis e
corretas graças
às quais todos os que as observam com exatidão
nunca
suporiam verdade o que é falso, e
chegariam,
sem se cansar com esforços
inúteis, mas
aumentando progressivamente sua ciência,
ao
conhecimento verdadeiro de tudo o que podem alcançar" Regra IV
(Descartes,Obras Escolhidas,2010.p.414)
2)O MÉTODO CARTESIANO: De acordo com Descartes, é impossível
filosofar sem método, tendo em vista que a construção de um conhecimento
verdadeiro se faz sempre com método; ele coloca esse aspecto em extrema
evidência nas suas obras que tinham como objetivo aperfeiçoar cada vez mais o
uso do espírito humano através da razão, as regras do método que ele propõe são totalmente formais,
não se fundando em princípios materiais, tendo como meta delinear, formalmente,
o modo como o espírito pensa de uma maneira eficaz, distinguindo o verdadeiro
do falso, quer dizer, “jamais supor verdadeiro o que é falso, e chegar ao
conhecimento de todas as coisas” (Descartes,Obras Escolhidas,Ed. Perspectiva,2010p.414).
Na regra V da Regulae
ele nos diz em que consiste o método,vejamos a citação:
" Todo o método consiste na ordem e na disposição das coisas para as quais é preciso voltar o olhar do espírito para
descobrir alguma verdade"(DESCARTES,Obras Escolhidas,Ed.Perspectiva, 2010.p.420).
Com o uso do método, Descartes rejeita todas as certezas
dogmáticas e do senso comum, ele pretende descobrir e fundamentar, um método "para bem conduzir a própria razão e procurar a verdade
nas ciências" como indica o subtítulo do seu Discurso do
Método, para tal, interroga-se primeiramente sobre a diversidade de todas as
nossas opiniões ; constatando que elas não podem ser confundidas com a verdade,
defendendo que elas devem ser submetidas à razão. Segundo ele, todas as coisas
que foram apreendidas e adquiridas ao
longo dos tempos deverão ser submetidas à crítica, quer dizer, ao pensamento
reflexivo, que examina os seus pressupostos, através de um método
que proporciona uma direção do pensamento, para somente
depois, poder ser objeto de conhecimento verdadeiro, tendo com o objetivo ,
evitar qualquer juízo parcial. Ele procura fundamentar, através de um método,
um modo de apreender a realidade através de conceitos claros e distintos,
rejeitando todas as certezas dogmáticas e para tal, usa a dúvida como forma de
compreender o mundo, tendo como
objetivo:
" jamais
acolher alguma coisa como verdadeira
que eu não
conhecesse evidentemente como tal; isto é, de evitar cuidadosamente a
precipitação
e a prevenção, e de nada incluir em meus juízos que não se
apresentasse
tão clara e distintamente ao meu espírito, que eu não tivesse
nenhuma
ocasião de pô-lo em dúvida." (DESCARTES,Obrasescolhidas,Ed.Perspectiva,2010,p.75/76).
Esse procedimento é conhecido como "dúvida cartesiana", e
tem como finalidade, desconfiar da verdade aparente de todas as coisas ,
procurando uma forma de não tomar por verdadeiro o que é
falso ,criticando as certezas adquiridas de sua época e
assim, se posicionar
contra o princípio da autoridade nas ciências, de acordo com
(PHILONENKO: s/d.p.76):"O
fato histórico é que Descartes, do mesmo modo que Galileu, revolucionou
a ciência, ligando audácia à prudência mais extrema. Não nos enganámos nisso.".
Para Descartes, primeiramente, deveremos determinar e classificar aquilo que,
para o espírito cognoscente, será elementar e evidente como ponto de partida de
qualquer investigação, e não aquilo que , independentemente do espírito ,
poderá ser subdividido em categorias, como é o caso da lógica aristotélica. "Dizemos,pois,em primeiro lugar, que cada coisa deve ser considerada de modo
diferente quando dela falamos relativamente ao nosso conhecimento e quando dela
falamos relativamente à sua própria existência"(DESCARTES,Obras Escolhidas,Ed. Perspectiva,2010.p.448).Em seu
escrito conhecido por: Objeções e Respostas , Descartes, muitas vezes, menciona
que uma investigação científica deve proceder de modo analítico, e não forma
sintética, vejamos a
citação:
"A análise
mostra o verdadeiro caminho pelo
qual uma
coisa foi metodicamente descoberta e revela como os efeitos dependem
das causas (...) A síntese, ao contrário, por um caminho todo diverso, e como que
examinando as
causas por seus efeitos
demonstra na verdade claramente o que está
contido em
suas conclusões... e ... não ensina o método pelo qual a coisa foi descoberta".(DESCARTES,Obras escolhidas,Ed. Perspectiva 2010.p.235.236).
3)CONCLUSÃO: Para Descartes, a vantagem do método analítico
consiste em iniciar as investigações com um rigor matemático, condizente com
espírito da época, onde Descartes, tinha como objetivo, estabelecer uma ciência
cuja certeza igualasse a da matemática, quer dizer, uma Mathesis Universalis,
que substituísse a incerta ciência medieval. Segundo ele, todas as ciências
deverão adotar esse método rigoroso e evidente para o espírito, estabelecendo
um saber seguro,haja vista que este terá uma base indubitável .Ao contrário do método
sintético que, de início parte de pressupostos
que mais tarde poderá se comprovar como duvidoso ou até mesmo como
falso. "(...) rejeitamos todos os conhecimentos apenas prováveis e decidimos ser preciso dar nosso assentimento apenas
àqueles perfeitamente conhecidos e dos
quais não podemos duvidar".(DESCARTES,Obrasescolhidas,Ed.Perspectiva,2010.p.407). Assim , percebemos
que como procedimento metodológico ele irá propor a tese de que para
estabelecer uma base segura para o saber , deveremos buscar algo que seja
percebido metodicamente de forma indubitável e
racional. Será nas Meditações Metafísicas, que ele irá demonstrar esse
fundamento considerado como um princípio metodológico indubitável, que será
chamada de Cogito; de acordo com:(COTTINGHAM:1995.p.37/38),"o Cogito
deverá ser considerado como a primeira e mais segura descoberta de quem
filosofa com rigor, sendo o primeiro e mais seguro passo no caminho para o
conhecimento verdadeiro de todas as coisas
que o espírito poderá conhecer". A confiança que poderemos encontrar na
base de toda essa operação metodológica é a de que a certeza é algo que
poderemos gerar por nós mesmos, ao ordenarmos nossos pensamentos de maneira
correta, "com clareza e distinção", onde o próprio fato da clareza reflexiva,
tende a aprimorar nossa posição com relação a busca de um conhecimento
verdadeiro, aumentando progressivamente, o nosso saber.