Estudiosos do pensamento de Bourdieu
têm no conceito de Habitus (do latim: "maneira de ser"), sendo o
ponto fulcral de seu pensamento sociológico, entendendo o Habitus como uma
estrutura mental que estrutura e é estruturado, na qual os agentes adquirem
suas múltiplas posições e comportamentos de maneira dinâmica, permanentemente
corporificados em processos de mudanças adquiridas e tornadas “naturais”. Para
Bourdieu, a socialização é a incorporação dos Habitus de classe, havendo uma
maior interação entre as classes que se tornam grupos que dividem o mesmo
Habitus. Existem Habitus primários, ligados diretamente ao instinto de
conservação dos agentes e Habitus secundários que estão inseridos nos diversos
campos entre os quais, o campo relacionado à educação. Os campos são estruturas
sociais, fundados no Habitus, em um sistema de configurações unificado, ou
seja, é um espaço social específico (escola, cultura, política, educação etc).
Cada Campo tem um Habitus próprio, o da Educação, para Bourdieu, está ligado,
tanto ao Habitus primário, quando ao secundário. Nos Habitus primários estariam
os hábitos instintuais, nos secundários, como no caso da educação, estariam
ligados aos laços estruturados e reproduzidos pelos Habitus no campo da
educação. Para ele, a educação tradicional vigente, ao invés de reduzir as
desigualdades sociais, contribui para reproduzi-las. Desse modo, urge
investigar os processos que levaram a estruturar esse paradoxal resultado. Sua
investigação chegou à conclusão que a educação foi estruturada através de um
longo processo de “violência simbólica”, quer dizer, forjada por uma
determinação arbitrária das estruturas de poder sociais dominantes, que
infligem de modo dissimulado seu poder ao sistema educacional(Campo da
Educação), reproduzindo suas estruturas, impondo-as a toda sociedade, através
do sistema de ensino, adquirindo, assim, um Habitus, que, portanto é
incorporado aos docentes, que reproduzem as semelhantes estruturas de dominação
que originaram os valores dominantes, repassando-os de uma forma
institucionalizada através dos diversos processos de seleção tradicionais, que
nas bases tradicionais, seriam processos de desigualdade e exclusão social.
Enfim, para Pierre Bourdieu, a ação do sociólogo seria a de colocar em
evidência as múltiplas estruturas de dominação reproduzidas, e efetuar uma
contra-violência simbólica, estruturando através de novos Habitus, uma educação
que teria como meta a formação do “Agente social”, cuja ação pedagógica seria
variada e múltipla, desvelando as estruturas de dominação desconhecidas por aqueles
que sofrem debaixo as pressões do sistema educacional tradicional. Ao
demonstrar a existência de um domínio simbólico, o sociólogo deve incitar para
que não aceitemos com naturalidade as divisões sociais. Os excluídos da
sociedade, para ele, devem tentar adquirir aquilo de que foram privados:
educação, cultura, lazer, informação etc. Cabe aos Agentes sociais que possuem
o conhecimento e as articulações dos “jogos de poder” fornecer os meios
teóricos e práticos para agir sobre as estruturas sociais e, portanto, a
possibilidade de reconstruir a história inscrita em nossos corpos sob a forma
de novos hábitos, tendo em vista que, o que está posto deve ser mudado, para
não haver uma reificação.
REFERÊNCIAS:1) Dicionário de
Sociologia, Zahar, A. G. Johnson.
2) Dicionário dos Filósofos, M. Fontes, D. Huisman.
3)50 Grandes Educadores Modernos, Contexto, J.A. Palmer.
4) Primeiras lições sobre a Sociologia de Bourdieu, Vozes,
P. Bonnewitz.
5) O poder simbólico, Bertrand Brasil, Bourdieu.
6)Dicionário de Filosofia, Ferrater Mora, Loyola.