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NIETZSCHE E A SUPERAÇÃO DO ATEÍSMO E DO TEÍSMO

Para  Nietzsche, o modo como a maioria das pessoas se relaciona com Deus não é propriamente filosófico, mas prático, cultural e psicológico. O teísta comum não possui um conceito crítico de Deus — ele simplesmente vive como se Deus existisse, porque essa crença sustenta a moral e a ordem social. Já o ateu típico, embora negue a existência de Deus, ainda pensa dentro das mesmas categorias herdadas da fé.Nietzsche observa que o ateu não rompeu com o modo de pensar cristão; ele apenas o inverteu. É o que o filósofo chama de "sombra de Deus": "O homem que negou Deus ainda crê na sombra de Deus."(GC, §108). O que o ateísmo representa, então, não é o fim da reflexão, mas apenas uma etapa no processo de libertação do pensamento. Nietzsche afirma que seu próprio ateísmo não foi um resultado racional, mas algo natural e instintivo: "De forma alguma conheço o ateísmo como resultado, e menos ainda como acontecimento: ele é algo natural para mim, por instinto."(EH, §1).Ele vê o anúncio da morte de Deus não como o triunfo do ateísmo, mas como o início de uma crise de sentido. O célebre fragmento do "insensato" descreve essa ruptura:"Deus está morto! Deus continua morto! E nós o matamos! (…) Não é preciso tornar-nos deuses para parecer dignos desse feito?"(GC, §125).Com a morte de Deus, todas as antigas certezas metafísicas e morais perdem o seu fundamento. O homem moderno, desamparado, precisa agora tornar-se criador. Nietzsche não propõe substituir Deus por outra crença, mas superar o próprio modo de pensar que exige um fundamento transcendente:"Deus é uma hipótese demasiadamente extrema."(Frag. Póst. 1887).A partir dessa constatação, Nietzsche compreende que não basta negar Deus; é preciso transformar o modo de pensar, isto é, ultrapassar o teísmo e o ateísmo para instaurar novos valores. Essa é a tarefa do (além-do-homem), aquele que cria valores após o colapso das antigas verdades:"O que é o grande homem? Aquele que cria valores."(BM, §211) "O homem é algo que deve ser superado". (Zaratustra, Prólogo, §3)Assim, para Nietzsche, superar o teísmo e o ateísmo significa romper tanto com a dependência de uma fé exterior quanto com a negação reativa dessa fé, instaurando a possibilidade de uma criação autônoma de valores uma nova aurora do espírito livre, para a "transvaloração de todos os valores".

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