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DO MITO AO LOGOS: ORIGEM E SIGNIFICADO DA FILOSOFIA

 As bases da civilização Grega ocorreram do século XII. Ao século VIII a.C., no período chamado de homérico. É de fundamental importância “conhecer” essa época, para nos fundamentarmos melhor em nossa compreensão sobre a gênese da filosofia. Por volta do século. 2000 a.C., pouco a pouco, as primeiras tribos, gregos e aqueus passaram a ocupar a Grécia continental, o Peloponeso e as ilhas do mar egeu, fundando a civilização micênica baseada, principalmente, na agricultura e no artesanato, dirigida por uma nobreza de nascimento. Nessa estrutura imperial, a escrita desempenhava um papel fundamental, quer dizer, era utilizada para a fiscalização, regulamentação e controle da vida econômica e social. Foi logo após a invasão dos dórios, em 1200 a.C. que ocorreu o início do período homérico. Os dórios eram organizados política e socialmente em um regime de genos (Descendentes do mesmo antepassado), enquanto, a civilização micênica era um regime de escravidão coletiva, onde ou correu uma destruição de toda a sua estrutura palaciana, e com ela o desaparecimento da escrita; havendo uma passagem da realeza para aristocracia. Em lugar de um rei, todo poderoso, desenvolveu-se durante nesse período, uma aristocracia que passou a tomar decisões políticas, baseadas em discussões públicas saindo de dentro do palácio para a ágora.Da união do génê, pátrias e tribos surgiram nas cidades com um centro de organização, onde as decisões políticas, militares e econômicas eram tomadas pelos conselhos, e as decisões mais importantes deviam, ainda ser submetidas à assembleia a qual compreendiam todos os cidadãos que pertenciam à cidade. O processo de surgimento dessa nova forma de organização provocou não apenas profundas transformações na vida social, mas também nos hábitos e nas Ideias. Jean Paul Vernant, aponta algumas dessas alterações entre as quais pode ser destacada: a primeira, refere-se ao reaparecimento da escrita no século IX a.C. com uma função completamente diferente, da que havia durante a civilização micênica. A partir disso, a escrita reapareceria em uma função de divulgar aspectos da vida social e política, tornando-se dessa forma, muito mais pública; a segunda dessas alterações refere-se à especialização de determinadas funções sociais, onde não cabia mais ao rei o comando absoluto na tomada de decisões, porque elas agora passaram a ser tomadas através das discussões, com apoio dos conselhos e, também, da assembleia, assim, as decisões passaram a ser vistas como um fruto de decisões humanas e não mais de um rei divino. Essas características expressavam, já, dois aspectos de tomada de decisões inteiramente relacionadas ao conceito de cidadania que foi tão fundamental no mundo grego: o caráter humano e público das decisões ampliou-se o controle dos destinos humanos pelos próprios homens e o acesso de todos ao mundo espiritual e do conhecimento, aos valores e as formas de raciocínio, permitindo que tudo fosse objeto de crítica e debate. As obras de Homero (Ilíada e Odisseia) e de Hesíodo (Os trabalhos, os dias e Teogonia) além de constituírem documentos importantes para o entendimento histórico desse período, permitiram, também, descortinar as características do pensamento então, produzido. Homero, que provavelmente viveu na jônia no século IX a. C, retrata em seus poemas momentos diferentes. A Ilíada mostra um período de guerra e a Odisseia retrata uma época de paz, em um período em que as decisões eram tomadas não mais por um rei, mas por assembleias de nobres. Jaeger em seu livro Paideia, faz uma análise de das obras a partir da qual se pode depreender a importância que elas têm. Homero e Hesíodo escreveram a partir de locais diferentes, enquanto Homero tem sua obra marcada pela descrição da vida e do mundo do ponto de vista da aristocracia da nobreza, Hesíodo em contraposição, coloca-se numa perspectiva que é própria das camadas populares. A concepção do homem distingue de maneira radical Homero e Hesíodo, e isso, traduz a realidade de uma sociedade em que a vida dos indivíduos era marcada por profundas diferenças, dadas as condições sociais. No entanto, ambas viviam em um mesmo momento histórico em que todos os gregos se emanciparam de suas velhas e arraigadas tradições e, a partir de uma herança comum, preparavam um novo modo de viver. O culto aos mortos, essencialmente ligado ao túmulo, é interrompido em função nas transformações dos costumes causadas pela invasão dória e pelas migrações; os ancestrais sobreviveram apenas nos mitos, e o culto não se renovou em torno de novos chefes devido ao novo hábito de incineração dos cadáveres. O contato com grupos de origens e costumes diferentes favoreceu a ruptura com as velhas tradições, fazendo com que partissem do que eles tinham em comum com suas crenças religiosas; os deuses perderam sua sacralidade e ganhavam, assim. humanidade, porque podiam tornar-se objeto de narrativa afastando-se do mistério. Desta forma, a religião dos deuses tomou o lugar da religião dos mortos. É aí, talvez, que se encontra a explicação para a preocupação que era comum a Homero e a Hesíodo, ou seja, aproximar os deuses dos homens, criando um laço forte entre eles, para tornar a vida mais racional e compreensível. Um aspecto que marcou as relações entre o homem e os deuses nos mitos de Homero e Hesíodo, foi a busca da compreensão do universo e de seus fenômenos, por meio da ordenação dos deuses, que passaram a ser vistos existindo dentro de uma certa ordem e hierarquia; esses mitos cosmogônicos buscavam descrever a ordem do universo, vista como surgindo a partir do caos, e de uma genealogia dos deuses. O mundo dos deuses refletia o mundo dos homens e, pela racionalização dos deuses e dos mitos. Estabeleceu-se uma racionalidade para a vida humana. Podendo-se dizer que se encontram uma racionalidade no âmbito do mito porque tanto o mito quanto o pensamento racional buscam uma ordem no universo. Entretanto, essa racionalidade está dentro dos limites do mito, onde a preocupação cosmológica dos primeiros jônicos, considerados como os iniciadores do pensamento racional, esteve presente nos mitos teogônicos de Hesíodo, apresentando elementos da natureza como água, ar, terra e fogo, confrontando-se ou segregando-se e, não mais se um unindo para formar o cosmos. Desta forma, a transição do mito a razão não pode ser analisada como se uma mentalidade pré racional fosse irredutível a racional, quer dizer, a passagem dando se abruptamente do mito ao logos. A causa que Hesíodo encontrava para o trabalho como tendo sido a partir de um determinado momento instituído pelos deuses (como fruto de um ato que era considerado imoral — o roubo). Assim, como estabelecimento de uma genealogia para os deuses, em que se pode destacar o fato da deusa da justiça (Dikê), representante de algo central, ser filha de Zeus. Também apontou para uma busca de uma racionalidade entre os deuses que em última instância espelhava a racionalidade do mundo. Foi no período arcaico entre os séculos sétimo e sexto que o desenvolvimento da polis teve sua característica mais marcante em torno da qual passou a girar a civilização grega. As poleeis, ou cidades estados, compreendiam a cidade em si e, as terras a sua volta garantiam a produção agrícola; elas se distinguiram por serem unidades econômicas, políticas e culturais independentes entre si. A economia mercantil, baseada no comércio entre as cidades e povos, foi uma característica importante das cidades estado. Os gregos produziam e vendiam vinho, azeite, utensílios de cerâmica, importavam cereais e metais. Essa economia foi marcada pela primeira vez na Grécia, por ser uma economia monetária onde, ganhavam-se moedas que eram usadas na troca de produtos e que, também, representavam uma garantia e um símbolo de autonomia da pólis. Nessa economia monetária, os laços políticos tornaram se laços entre aqueles que detinham a riqueza monetária, levando a enormes diferenças sociais gerando crises políticas. Foi Sólon, o grande reformador social, onde podemos destacar entre seus feitos, as seguintes coisas: liberação de terras perdidas por dívida, abolição da escravidão por dívidas, regulamentação dos direitos políticos e a extensão do direito do voto na assembleia, a todos os cidadãos. A identidade política e econômica da pólis levou ao desenvolvimento da noção de cidadania e democracia, sendo um cidadão responsável pela participação ativa nas decisões de organizações da sociedade. Em meio a esse complexo conjunto de relações e diferenciações entre atividades entre grupos e indivíduos; o homem grego tornou-se capaz de transformar o pensamento a várias instâncias presentes em sua vida, tais como: a sociedade, a natureza, sendo capaz de refletir a várias instâncias de sua vida como, por exemplo, a abstração envolvida no uso da moeda, tornou-se capaz de associar o conhecimento com discussão, através de debates, com a possibilidade do diferente, da divergência, impossíveis dentro do mundo que havia dado origem ao conhecimento mítico, marcado pelo dogmatismo. Desta forma, a própria vida social das cidades-estados passou a ser objeto de reflexão, o debate público nelas desenvolvido levava, segundo Pierre Vernant, a uma discussão da ordem humana, procurando defini-la em si mesma e traduzi-la em formas acessíveis à inteligência. As explicações sobre a natureza buscavam, também, a descoberta de uma ordem que lhe fosse própria, a partir de então o universo deveria ser explicado sem mistérios, e o entendimento que dele se obteria devia ser suscetível de ser debatido publicamente, assim como todas as questões da vida corrente.

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