Na " Ética protestante e o espírito do capitalismo ", Max Weber sustenta a tese que o engrandecimento do capitalismo, fundado no cálculo do capital e na organização racional do trabalho, deve-se ao encontro de dois fatores primordiais: O espírito do capitalismo e a ética "protestante". O espírito do capitalismo segundo Weber, não se manifestou em uma busca desenfreada e cega do lucro pelos especuladores, e sim na busca racional , sistemática e com alto controle do lucro vinculado no exercício honesto e assíduo de uma profissão. Para explicar tal emergência ocorrida historicamente, Weber aponta um segundo fator que foi a influência da Reforma Protestante , mais particularmente do calvinismo, cuja ética era a de uma privação radical de todo interesse pelos prazeres mundanos. O calvinismo, afirma que Deus decidiu de antemão o destino dos homens. Uns seriam predestinados à vida eterna e outros a morte eterna. Havendo dúvidas se seria um eleito ou não, o calvinista buscava seus sinais aqui na Terra, nos frutos de seu trabalho árduo quase sem descanso e sem alegria, trabalhando unicamente para glória de Deus. Compreendendo o trabalho como uma vocação e a riqueza como um sinal de benções divinas, acumulava cada vez mais capital. O ascetismo calvinista estrangulando o consumo causou uma acumulação de capital:
"E confrontando agora aquele
estrangulamento do consumo com essa desobstrução da ambição de lucro, o
resultado externo é evidente: acumulação de capital mediante coerção ascética à
poupança" (WEBER,M;EPEC;pg.157;Cia. das Letras; São
Paulo,2008,7ªreimpressão)
Desse modo, ficando estabelecido
o sistema capitalista segue suas próprias leis, desvinculando-se e não mais
tendo mais necessidade do apoio religioso, paulatinamente, formou-se
um utilitarismo profano , ou
seja, o homem religioso transformou-se em um homem econômico.
"(...) depois que a breve
dominação da teocracia calvinista se diluiu numa insípida Igreja Estatal, tendo
com isso o calvinismo perceptivelmente perdido em força de atração
ascética".(WEBER,M; pg.153/154,Cia. das Letras, São Paulo,2008,1ªed.7ªreimpressão)
A partir de agora, esse
calculista apenas louva uma religião: a do dinheiro; afinal, o que restou da
parte religiosa foi o homem escravo do trabalho, o homem alienado pelo acúmulo
de capital; o que antes era uma escolha para se tornar um eleito de Deus
trabalhando e acumulando capital, foi transformado em rígido destino, perdendo
com isso sua liberdade. Weber, no final da Ética protestante, compara a
modernidade como uma " jaula de ferro".Vejamos a citação:
" O puritano queria ser um
profissional - nós devemos sê-lo. Pois a ascese, ao se transferir das celas dos
mosteiros para a vida profissional, passou a dominar a moralidade intramundana
e assim contribuiu [com sua parte] para edificar esse poderoso cosmos da ordem
econômica moderna ligado aos pressupostos técnicos e econômicos da produção
pela máquina, que hoje determina com pressão avassaladora o estilo de vida de
todos os indivíduos que nascem dentro dessa engrenagem -não só dos
economicamente ativos - e talvez continue a determinar até que cesse de queimar
a última porção de combustível fóssil. Na opinião de Baxter ,(um prosélito
protestante)o cuidado com os bens exteriores devia pesar sobre os ombros de seu
santo apenas “qual leve manto de que se pudesse despir a qualquer momento. Quis
o destino, porém, que o manto virasse uma rija crosta de aço"{na célebre
tradução de Parsons: iron cage = jaula de ferro}.(Weber, M.;EPEC;pg. 165;Cia.
das Letras,S. Paulo,2008,7ª reimpressão).
Chegamos à conclusão de que: a
"afinidade eletiva" entre o espírito do capitalismo e o
protestantismo ascético foi o fator determinante do trabalho tido apenas como vocação,
perdendo o Homem, dessa forma, sua liberdade, ficando escravo do capital apenas
para a sua profunda alienação e obter a "Glória de Deus".
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