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O PROBLEMA DO FUNDAMENTO EM HEIDEGGER

  A tematização acerca do problema do fundamento surge, em Heidegger, de uma nova maneira, tendo em vista que ele se confunde e se problematiza com o da transcendência “ (...)então também o problema do fundamento só pode residir onde à essência da verdade obtém a sua possibilidade interna, na essência da transcendência. A questão da essência do fundamento torna-se o problema da transcendência” (HEIDEGGER Martin, A essência do fundamento, Ed. 70, Pg. 29). Desta forma, toda a tradição filosófica pós-platónica abordou o fundamento ora como: Ideia, Causa Primeira, Deus, P. Razão Suficiente, Substância, etc. A ontologia para essa tradição é “o estudo do ser enquanto ser” que transcende a temporalidade, deste modo, ela  postulou princípios fundamentais que, esquecendo o Ser, houve uma abordagem focada para os entes em detrimento do estudo do sentido do Ser.Para Heidegger é fundamental e imprescindível fazer a distinção entre Ser e Ente, diferença essa que foi confundida pelo pensamento ocidental tradicional e sobretudo com a  sua tarefa ,também, importantíssima de dar ao Tempo uma nova concepção que a Metafísica havia feito, ou seja,  o tempo compreendido ora,como “Imagem móvel da eternidade” (Platão), ora como “Duração entre eventos” (Aristóteles), para a nova concepção sobre o  tempo, como presença, sendo inerente ao Homem.
Na asserção:“A questão da essência do fundamento torna-se o problema da transcendência” (HEIDEGGER Martin, A essência do fundamento, Ed.70, Pg. 29), já que há um entrelace originário entre verdade, fundamento e transcendência, sendo desta forma um problema “originariamente uno”; Leibniz já havia caracterizado o Princípio de Razão Suficiente no conteúdo intrínseco da Verdade, contudo, não percebeu que esse modo de pensar já é uma consequência do que foi tratado pelos filósofos da era trágica. Kant por sua vez, não explica o que é Transcendência, ele apenas fez uma distinção entre Transcendente (um conceito ou entidade que ultrapassa a nossa experiência) e Transcendental (aquilo que pertence à possibilidade, a priori, de nosso conhecimento experimental).
Para Heidegger, "Transcendência significa a ultrapassagem”(Id.,ibid.,p.33) e “Transcendente é o que realiza a ultrapassagem, persiste na ação de ultrapassar”(Id.,ibid.,p.33), ela é característica do Homem (Dasein), que pergunta pelo Ser e pelo seu sentido , não estando determinado historicamente como em Hegel, ao contrário, ele é abertura, sempre abertura para novas possibilidades. A Transcendência é entendida como ser-no-mundo, de forma que em confrontação com os Entes deve-se, primeiramente, se posicionar além deles percebendo que há uma diferença ontológica. O Ser sendo diferente dos Entes é Transcendente, por excelência, e através da pergunta pelo sentido do Ser, a ultrapassagem se faz presente enquanto investiga pelo sentido do Ser, pois, desta forma o Ser Transcende o Ente.
A ontologia tradicional abordou o Tempo como vinculado à ideia de “medição”, Heidegger por sua vez deu ao Tempo uma caracterização antropológica e ontológica, convertendo-o em Temporalidade, ou seja, o Tempo passa a representar o caráter antropológico do Ser-aí (Dasein) realizando ,desta forma ,uma vinculação intrínseca entre o Ser Humano e a Temporalidade. A Temporalidade é entendida por Heidegger, da mesma forma que os pensadores da era trágica  , onde não havia uma distinção entre espaço e tempo, eles os concebiam como abrindo um lugar, um recinto, um âmbito consistente para as suas atividades, o tempo era desta forma a instauração do Instante.
A distinção entre Ser e Ente é também fundamental para a compreensão do problema do fundamento, tendo em vista, que a tradição filosófica, segundo Heidegger ,confundiu Ser e Ente. Faz-se necessário fazer a distinção entre eles. O Ser é maneira como algo se torna manifesto, percebido, presente e desta forma ,se relaciona intrinsecamente como o Ser Humano, como Ser-aí; “A característica do Ser-aí consiste em ele se comportar perante o Ente compreendendo o Ser”. Os Entes são as coisas, presenciadas, percebidas, conhecidas pelo Ser do Ente e é caracterizado pela esfera do Ôntico. O Ôntico se refere a estrutura e a essência própria de um Ente, a aquilo que ele é em si mesmo, sua identidade, sua diferença em face de outros Entes. O Ser “é” o Ser do Ente, ou seja, o Ente só é no seu Ser, o ente é apenas compreendido pelo Ser.
Partindo da consideração do problema da Metafísica tradicional, o ser foi compreendido, desde Platão e Aristóteles como Transcendente, sendo que esse conceito de Ser não é o mais claro, muito pelo contrário é o conceito mais obscuro e abstruso. Ser (Sein) não é o mesmo que Ente (Seindes). Como o Ser não pode ser definido, pois é a mais vaga das abstrações, houve uma representação do Ser como Ente, ora como o Ente Supremo, ora como abstração dos próprios Entes, na sua forma lógica. Ser não é mais uma propriedade ou atributo de um ente supremo, mas se dá na compreensão de ser como modo de ser do Homem.
O Ontológico se refere a estudo filosófico dos Entes que inquirem na investigação dos conceitos, ou seja, sobre o Ser mesmo do mundo, que em geral  aborda os Entes tomados como objetos do conhecimento, pois, em Heidegger o plano Ontológico precede a abordagem Gnosiológica, que se mostra na questão originária que foi esquecida, a do sentido do Ser, conforme a citação: 
“Pelo contrário, os conceitos ontológicos originários devem obter-se antes de toda a definição científica dos conceitos fundamentais de maneira que, a partir deles, se possa primeiro avaliar de que modo restritivo e circunscrito em cada caso, e desde uma focagem determinada, os conceitos fundamentais das ciências atingem o ser, captável em termos puramente ontológicos” (Heidegger M. A essência do fundamento, Ed.70. Pg25).
Desta forma, o conceito ontológico é originário, devendo preceder a qualquer outro conceito.  A Metafísica tradicional, vai além dos Entes como um todo, interpretando-os alternadamente: ora como Ideia, ora como Causa Primeira, ora como Substância, ora como Deus, etc. gerando uma representação antropomórfica do conhecimento filosófico, onde a Transcendência foi concebida estando “Fora” em um “Além”.


BIBIOGRAFIA: A essência do Fundamento.Ed.70.Portugal.s/d)
                            Dicionário Heidegger -JZE-2002)
                            

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